Missão na pós-modernidade (parte 2 de 3)

por Jon Paulien
traduzido por Matheus Cardoso

(O texto abaixo é a segunda parte de uma série. Você pode encontrar a primeira parte aqui.)

4. Da igreja à comunidade/sociedade

No evangelismo tradicional, as reuniões acontecem nas dependências da igreja. Mesmo que o trabalho comece num local público (como salões alugados e tendas), tão logo seja possível as reuniões são transferidas para a igreja. Contudo, pós-modernos dificilmente irão a uma igreja, ainda que tenham interesse nos assuntos apresentados. Esperar que eles venham até nós é uma batalha perdida. Por outro lado, pessoas seculares moram nas mesmas vizinhanças e trabalham nos mesmos locais que os cristãos.

A Bíblia e a condição pós-moderna mostram que devemos nos mover de uma missão centralizada na igreja para uma igreja centralizada na missão. A igreja não é o alvo da missão; em vez disso, é o instrumento por meio do qual a missão pode ser cumprida. Para termos êxito no evangelismo, precisamos ir ao encontro das pessoas onde elas estão (seguindo o modelo de Deus e de Cristo). Portanto, um movimento em direção à comunidade – como a vizinhança e o local de trabalho – é um passo na direção correta.

O evangelismo na vizinhança e no local de trabalho exige criatividade. É possível criar grupos de afinidade, em que os colegas de trabalho se encontram para almoçar ou amigos se encontram na casa de alguém. Nesses momentos, eles podem partilhar de interesses em assuntos e atividades que têm em comum, como vida familiar, trabalho e esportes. Certa vez alcancei um amigo com a mensagem do evangelho passando algumas noites assistindo partidas de futebol com ele. Do relacionamento, vem a confiança; e, da confiança, vem uma abertura espiritual.

5. De um método à variedade de abordagens

O evangelismo praticado atualmente na Igreja Adventista surgiu com William Simpson, em 1902. O que fazemos hoje não costuma ser muito diferente do que ele fazia há mais de 100 anos. Muitas pessoas, a quem esse modelo é atraente, respondem muito bem a ele. Porém, na maior parte do mundo ocidental, a porcentagem de pessoas que o consideram relevante tem caído rapidamente.

Pós-modernos são tão diversificados quanto flocos de neve. A boa notícia é que essa diversidade tem seu contraponto na diversidade transmitida pelo Espírito Santo (1 Coríntios 12-14). Cristãos verdadeiramente cheios do Espírito não surgem através de uma linha de produção em massa. Em vez disso, são bastante imprevisíveis, assim como o próprio Espírito (João 3:8). A variedade ilimitada de dons do Espírito Santo conduzirá a uma variedade de abordagens que vão ao encontro das diferentes mentalidades e necessidades dos pós-modernos.

As pessoas mais apropriadas para alcançar pós-modernos são aquelas que tiveram experiências diversificadas e profundas na vida. Assim, elas conhecem bem os problemas comuns do ‘mundo real’. Além disso, tiveram uma experiência profunda e pessoal com Deus e descobriram quem são em Cristo. Elas conhecem o propósito de sua vida, e a sabedoria prática delas irá iluminar a vida de outros. Amigos, vizinhos e colegas de trabalho as verão como mentores. Elas buscam usar todos os dons dados pelo Espírito Santo para se relacionar com aqueles que não responderiam a abordagens tradicionais. Outros na igreja podem criticá-las por não agirem da maneira convencional, e por saírem de sua zona de conforto, mas pessoas movidas pelo Espírito usarão seus dons com a coragem que vem da convicção de serem chamadas por Deus.

6. Do foco na conversão ao foco no processo

O evangelismo tradicional focaliza a conversão e o batismo. Mas o evangelismo secular e pós-moderno funciona de maneira diferente. Imagine uma escala de 10 negativo (- 10) a 10 positivo (+ 10) (veja a tabela abaixo). Dez negativo indica alguém que não possui nenhum conhecimento sobre Deus. Dez positivo designa um seguidor de Cristo bastante maduro e consagrado. O ponto zero seria o momento de conversão e batismo. O evangelismo típico tem o objetivo de levar pessoas da área negativa à área positiva da escala. A missão é considerada cumprida apenas se resultou em batismos. No entanto, os ocidentais em geral estão muito mais próximos do extremo negativo da escala do que é esperado nos projetos evangelísticos. Isso significa que temos pouco ou nenhum impacto na sociedade predominante.

Processo de crescimento espiritual:

Atuação de Deus Atuação do comunicador “Escala” Fase
Revelação geral (natureza, consciência) – 8 Consciência de um Ser supremo
Convicção Proclamação – 7 Algum conhecimento do evangelho
– 6 Conhecimento dos fundamentos do evangelho
– 5 Percepção do significado pessoal do evangelho
– 4 Atitude positiva à possibilidade de se tornar cristão
– 3 Reconhecimento do problema e intenção de agir
– 2 Decisão de agir
Chamado à decisão – 1 Arrependimento e fé em Cristo
Novo nascimento 0 Nova criatura
Santificação Acompanhamento + 1 Avaliação pós-decisão
+ 2 Participação e comunhão na igreja
Cultivo e relacionamento + 3 Crescimento espiritual:

– Comunhão com Deus

– Transformação interior

– Manifestação exterior

O evangelismo missional, por outro lado, pode ocorrer mesmo não tendo-se em vista o batismo imediato. Se uma pessoa se move, por exemplo, de 8 ou 7 negativo a 5 negativo na escala, devemos considerar que o evangelismo foi bem-sucedido. Quando evangelizamos com foco no processo, nosso objetivo é encorajar as pessoas a começarem ou a continuarem a se mover na direção de Jesus. E o evangelismo focalizado no processo não se limita a alcançar pessoas seculares. A ideia de processo também é relevante para o lado positivo da escala, ajudando cristãos batizados a desenvolverem um discipulado mais comprometido.

Em 2002, publiquei um livro que tem o objetivo de levar pós-modernos de 8 negativo a 6 ou 5 negativo. Com o título The Day That Changed the World (O dia que mudou o mundo), ele convida o leitor a refletir sobre o Onze de Setembro, atualidades e o terrorismo, e a buscar o significado da vida em meio à tragédia. Nos últimos capítulos, o livro apresenta o dia que realmente mudou o mundo – aquela sexta-feira em Jerusalém, quando Cristo entregou Sua vida na cruz. Vários programas da TV Novo Tempo também têm os mesmos objetivos, especialmente “Viva – uma experiência real”, apresentado por Kleber Gonçalves, e “Evidências”, apresentado por Rodrigo Silva (este último não está sendo transmitido atualmente, mas seus vídeos podem ser assistidos aqui).

Os três princípios anteriores são mais desafiadores que os três primeiros. E os três seguintes (e últimos) são ainda mais desafiadores. Talvez você e sua igreja não estejam prontos para considerá-los como opções. E você só deve avançar se Deus lhe guiar nessa direção. Mas é provável que os princípios a seguir mostrem as principais razões por que temos tão pouco impacto na geração atual.

(continua)

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Jon Paulien, Ph.D. (Universidade Andrews), é diretor da Faculdade de Teologia da Universidade de Loma Linda (EUA). Ele é especialista no livro de Apocalipse e na relação entre fé e cultura contemporânea.

Fontes:
Este texto, parte da série Missão na pós-modernidade, foi adaptado e traduzido por Matheus Cardoso a partir dos seguintes materiais de Jon Paulien:

1. PAULIEN, Jon. “God’s mighty acts in a changing world (part 2 of 2)”, Ministry, abril de 2006, p. 14-15;

2. __________. Everlasting Gospel, Ever-changing World: Introducing Jesus to a Skeptical Generation (Boise, ID: Pacific Press, 2008), p. 126-130;

3. __________. Reaching and Winning Secular People: A Strategy Manual (General Conference Department of Personal Ministries, s.d.), p. 64-68.

Continuação:
O texto acima é a segunda parte de uma série. Você pode encontrar a terceira e última parte aqui.


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